Eleições 2012: mesa-redonda discute ética, mídia e corrupção em seminário do Nesp

De que maneira o jornalismo pode contribuir para o combate à corrupção? Essa foi a pergunta que norteou o debate da mesa-redonda Ética, Mídia e Corrupção.

Realizada nesta quarta-feira, 5 de setembro, dentro das atividades do Seminário Ética e Corrupção: dilemas contemporâneos, realizado pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da Arquidiocese de Belo Horizonte e da PUC Minas, em parceria com o Departamento de Filosofia.

Participaram da mesa o editor de Cultura do jornal Estado de Minas, João Paulo Cunha; a professora Bertha Makaaroun, da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas e o professor Padre Márcio Paiva, do Departamento de Filosofia da Universidade. Para eles, a corrupção pode estar presente em todos os setores da sociedade, não sendo monopólio dos políticos.

De acordo com o jornalista João Paulo Cunha, “o jornalismo não vai combater a corrupção, mas pode ajudar”. Ele lembrou que, com o fim do regime militar, foi dada uma visibilidade maior à corrupção, e esse é um ponto que ajuda a combater a corrupção. “Alguns desvios podem ser considerados corrupção como, por exemplo, o uso de apadrinhamento, defesa de determinados interesses particularistas nos campos econômico, social e político”, disse. “A corrupção não é apenas um elemento que vem do Estado. A corrupção está presente em vários momentos da vida social”. Para o jornalista, é preciso atacar o conceito de que a corrupção é uma herança histórica. “No Brasil, há uma tendência de se considerar a corrupção como uma condição natural da nossa história, e é preciso atacar esse conceito”.

Uma preocupação de João Paulo Cunha é quanto à independência da imprensa. “Temos de pensar de que forma podemos melhorar nossa comunicação, nossos profissionais. O medo de perder emprego faz com que muitos jornalistas se calem, se omitam, não queiram falar a verdade”, afirmou.

Para a professora Bertha Makaaroun, quando o noticiário dá a visibilidade para o fato faz com que essa discussão vá para a sociedade e, com isso, a punição passa a ocorrer em outro nível: o moral.

No caso do processo eleitoral, segundo Bertha, a sociedade fica mais atenta ao campo político no período eleitoral. “Com a abundância de informação, há a mobilização da sociedade, o que produz resultados importantes no processo eleitoral”, disse.

O professor padre Márcio Paiva fez um paralelo entre discurso ético e moralismo. “Discurso ético é sempre aberto, aponta um norte, é obra do espírito humano que busca dar sentido à vida; é inclusivo e libertador; busca a verdade enquanto processo histórico e gera participação. Já o moralismo é fechado; está presente em todos os setores da sociedade; é autoritário, infantiliza e não deixa a pessoa participar; esconde mar de hipocrisia; gera ressentimento daquele que foi excluído”, lembrou. Com relação à corrupção, ele afirma que ela não é de partido político, não é da sociedade, é do ser humano. “Corrupção é aquela que impede a vida acontecer. Ela é construída no exercício do poder público e deve ser combatida por meio de leis claras e objetivas que possam, de fato, ser aplicadas”.  Padre Márcio afirmou, ainda, que a cultura da corrupção é combatida instaurando o debate público, e aí entra o papel importante da mídia. “A mídia não pode abrir mão da verdade e do princípio da realidade. Uma coisa é informação, a outra é a verdade”. O professor terminou falando sobre os  problemas contemporâneos: ausência de líderes e crise das instituições: “O mundo contemporâneo carece de verdadeiros líderes humanos que consigam articular as variadas instâncias voltadas para o bem comum”.