Grupos de Fé e Política: o desafio de construir a cidadania

Um pouco mais sobre o NesP, sua história, seus projetos que estão acontecendo e irão acontecer, e a quem eles atendem.Há seis anos, o Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da Arquidiocese de Belo Horizonte foi criado com a intenção de contribuir para a formação e capacitação de agentes pastorais, lideranças comunitárias e cristãs, sacerdotes, religiosos, para o exercício da política no cotidiano, e também em funções públicas.

A instituição, que trabalha em conjunto com assessores de movimentos sociais e pastorais para formação crítica dos cristãos, vem fomentando e fortalecendo ações sociais transformadoras nos 28 municípios da Arquidiocese de Belo Horizonte, aprofundando o conhecimento sobre a realidade local e nacional. Também desenvolve ações a fim de despertar a consciência crítica, nos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais.

Segundo o pesquisador do Nesp, professor Robson Sávio Reis, o trabalho é permanente. Nas práticas, estão incluídas articulação em rede dos grupos de fé e política, movimentos sociais e pastorais da Igreja; produção de material didático, como subsídios voltados para a formação política e  realização de eventos que discutam as formas de participação e controle social com os poderes do Estado. Também se  destacam a  divulgação de boas práticas do exercício da política (por meio da mídia em geral); o assessoramento a grupos e pastorais sociais na criação ou ampliação das ações políticas no âmbito local e as atividades de monitoramento dos poderes públicos, entre outras.

Com o apoio do Nesp e a experiência adquirida ao longo dessa caminhada, os grupos de fé e política  da Arquidiocese têm  comprovado no dia a dia que a organização da sociedade em torno de objetivos comuns e princípios éticos pode fazer a diferença, mesmo num cenário de intrincados jogos políticos.  Que é possível, com a união da comunidade  transformar a realidade de um bairro, de uma região e, por consequência, de uma cidade.  Trabalho que, certamente, também contribuirá para o aperfeiçoamento da classe política, por meio do amadurecimento do cidadão. Conheça exemplos de conquistas que resultaram da mobilização comunitária.

Grupo de Fé e Política – Paróquia São Joaquim

Vida em abundância

O Grupo de Fé e Política da Paróquia São Joaquim, em Contagem, uniu forças com a equipe de Ação Social, o que potencializou as duas frentes de trabalho, como explica a assistente social Maria Conceição Senra.

Leiga atuante, ela avalia que a formação cidadã deve caminhar junto com a promoção humana, o que exige ação contínua junto à comunidade, tanto daqueles que recebem os benefícios diretamente, quanto dos voluntários que também crescem, em todos os sentidos, ao realizar o trabalho. “Temos como uma de nossas referências, as palavras de Jesus, quando Ele diz  que veio para que todos tenham vida em abundância”.

Ir além do assistencialismo é uma das metas do grupo de Fé Política e Ação Social. Os voluntários  incentivam as pessoas a valorizarem o trabalho  e a serem produtivas, o que muitas vezes começa pelo projeto Tramar. A entidade trabalha com reciclados e oferece oportunidades de geração de renda. E o desempenho daqueles que são encaminhados para  o projeto é acompanhado pelo grupo da paróquia.

“Nosso objetivo é construir o Reino, trabalhando para que todos, priorizando os pobres, possam desfrutar de vida abundante.”

As questões pertinentes à discussão política e dos valores éticos, segundo Maria da Conceição Senra, são trabalhadas com a participação do Pároco, padre  Júlio César Gonçalves Amaral, que integrou o Nesp e até hoje participa das atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Arquidiocese.  “Especialmente em épocas de eleições  procuramos convidar candidatos  para participarem de debates. Distribuímos o material do Nesp voltado para a formação política e cidadã, e o padre Júlio sempre lembra aos paroquianos dos critérios  que devem ser considerados na escolha dos candidatos” – revela.

Mas mesmo quando não há eleições, segundo Maria da Conceição, o grupo não perde de vista a execução das políticas públicas e o reflexo  delas na vida de cada cidadão. “O nosso objetivo é o de “construir o Reino, trabalhando para que todos ( priorizando os pobres) possam desfrutar de vida abundante. Para isso é importante  conhecermos a realidade humana e sócio-política em nossa comunidade, identificando as necessidades de cada um diante da pobreza e opressão à que estão submetidos. Assim,  estamos caminhando no sentido de aprofundarmos esse conhecimento”.

Grupo de Fé e Política – Paróquia Santa Margarida Maria Alacoque

Promoção humana

O compromisso com  a ética e a cidadania  é  o que dá credibilidade ao  Grupo de Fé e Política da Paróquia Santa Margarida Maria Alacoque. Sempre que surgem questões de interesse  geral como educação, transporte e saúde, seus integrantes mobilizam a população para  que as decisões beneficiem o maior número possível de moradores.

No momento,  todos estão envolvidos com as modificações que a BHTrans – empresa que administra o trânsito em Belo Horizonte – pretende fazer na linha de ônibus do bairro Jardim Montanhês, onde a paróquia está localizada.

A urgência desta última demanda, segundo  Luzia do Carmo Barcelos, integrante do Grupo,  interrompeu  outro projeto que previa reuniões com a população e com   movimentos  da Paróquia  para  a divulgação de informações sobre o funcionamento e a importância da participação nos grupos de fé e política. Ela que empresta à comunidade os conhecimentos adquiridos com a graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas, na PUC Minas, e na pós-graduação em Auditoria, pela Universidade Gama Filho, afirma que  não desistiu, e que o projeto será retomado.
A militância em favor do bem-estar comum  não para por aí. O grupo  está empenhado há alguns anos em cobrar da prefeitura  a construção de  uma Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI). Segundo Luzia  Barcelos,  as obras já estão começando no terreno destinado à escola. “A gente não  pode deixar de agir. É preciso estar sempre em contato com o poder público, colocando as nossas necessidades, pois todas as comunidades têm suas demandas e se não formos insistentes, corremos o risco de ficarmos esquecidos”, ensina.

“Nosso trabalho é apartidário, pois a Igreja é de todos”

O grupo de  Fé de Política  também trabalhou  para a implantação  do projeto Brasil Alfabetizado,  no bairro Jardim Montanhês . É um curso para  adultos que não completaram as primeiras séries do ensino fundamental  ou que esqueceram parte do conhecimento adquirido, embora tenham concluído os estudos dessa etapa. De acordo com Luzia Barcelos,  vários alunos do projeto têm sido encaminhados  para o Ensino de Jovens Adultos (EJA),  abrindo possibilidade para que ingressem em cursos profissionalizantes.

Um dos integrantes do grupo de Fé e Política  também é membro do Conselho de Saúde Local e do Conselho  Distrital de Saúde. Sempre atento  a questões relacionadas ao setor, quando necessário, ele cobra a implentação de políticas públicas em defesa da população, como nos surtos de dengue e leishmaniose ocorridos  em passado recente.

Embora  algumas iniciativas dependam de  recursos financeiros, Luzia Barcelos afirma que só são aceitas verbas do executivo, isentas de barganhas eleitorais. “Não recebemos verbas parlamentares porque não queremos nos comprometer com políticos. Nosso trabalho é apartidário. Consideramos que a Igreja é de todos  e que não podemos exercer nossa influência em favor de candidatos ou partidos”, conclui.
Grupo de Fé e Política – Paróquia Santa Edith Stein

Comunidade ganha força com mobilização

O Grupo de Fé e Política Cidadania Cristã da Paróquia Santa Edith Stein, no bairro Sagrada Família, é um dos exemplos do trabalho realizado pela Arquidiocese de Belo Horizonte na formação de cidadãos comprometidos com o bem comum. O objetivo é mobilizar a comunidade na busca de soluções para as demandas da região por meio de políticas públicas.

“A fé, a educação e a política são instrumentos de transformação do mundo.”

A coordenadora dos trabalhos é a pedagoga Maria do  Carmo Cotta Jorge. Ela conta que se aproximou da Igreja ao integrar a equipe de liturgia da Paróquia  ainda no ano 2000. Dois anos depois, atendendo aos pedidos dos padres Hélio e Paulo Silveira,  passou a ajudar na gestão do grupo, atividade que encaixou-se perfeitamente ao seu perfil . “Vim de  uma família de políticos e recebi uma formação bastante politizada”, conta.

O Grupo da Paróquia Santa Edith Stein congrega  outras associações como a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), a  Associação dos Moradores e Empresários do Sagrada Família (AME-SF),  a Associação Comunitária  do Horto Agronômico e Sagrada Família (ACHA), Associação Comunitária  Feminina da Regional Leste (Acosel) e Associação Comunitária do bairro Sagrada Família (Acobasf).

Maria do Carmo reúne em um arquivo histórias de conquistas importantes. Entre elas a ampliação do Centro de Saúde e a reorganização do trânsito pleiteadas por moradores, após estudo solicitado à BHtrans. Agora os integrantes estão às voltas com a implantação de uma linha de ônibus que ligue o posto de saúde à área hospitalar.

“A política bem dirigida é uma das melhores formas de se praticar a caridade.”
(Paulo VI)

O reconhecimento dessas ações do Grupo de Fé e Política Cidadania Cristã ultrapassou as fronteiras da Paróquia Santa Edidth Stein e do bairro. O grupo tornou-se exemplo para outras comunidades e, recentemente, ganhou destaque em revista mineira de grande circulação.

A energia para a vida que se tornou agitada com tantas reuniões – só as do grupo chegam a 80 desde a fundação –  Maria do Carmo busca na crença em que a fé, a Educação e a política são instrumentos de transformação do mundo. Para sustentar sua tese, ela também recorre às  palavras do Papa Paulo VI: “A política bem dirigida é uma das melhores formas de se praticar a caridade”.