Violência e eleições: desde agosto, pelo menos 30 candidatos já foram mortos

Uma série de assassinatos de candidatos domina a campanha para as eleições municipais do próximo domingo no Brasil e provoca temores de que as tensões políticas enveredem por territórios perigosos. Os crimes se concentram principalmente no Rio de Janeiro, onde aconteceram, nos últimos nove meses, 16 assassinatos de candidatos a prefeito ou vereador.

Levantamento feito pelo site “Congresso em Foco” aponta que pelo menos 30 homicídios de políticos ocorreram todo o país desde agosto deste ano. Na maior parte das ocorrências, os mortos são candidatos a vereador.

Outro levantamento, realizado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, aponta que ao menos 96 pessoas – entre prefeitos, secretários municipais, candidatos e militantes – foram executadas por motivações políticas entre janeiro e setembro deste ano em todo o país. Os dados têm como base registros policiais, em sua maioria, além de documentos de fóruns, denúncias do Ministério Público e processos nos Tribunais de Justiça.

O mais recente caso de homicídio aconteceu contra o candidato à Prefeitura de Itumbiara, em Goiás, José Gomes Rocha. Ele e um policial que fazia a segurança da campanha foram mortos a tiros durante uma carreta, nessa quarta-feira (28). O vice-governador José Eliton Júnior ficou gravemente ferido. O agressor, um funcionário da prefeitura, foi morto.

Em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, o prefeito e candidato Gilberto Gomes da Silva (PPS) saiu ileso após ter o carro metralhado por um homem numa moto, também nessa quarta-feira (28).

Trata-se de uma opção recebida em muitos casos com ceticismo, dado que “os aparelhos repressivos do Estado não entendem os conflitos dessas comunidades e, por causa disso, são ineficazes”, afirmou o cientista político e juiz João Batista Damasceno.

Os brasileiros irão eleger no domingo – com o segundo turno marcado para o dia 30 – mais de 5.500 prefeitos, em um ambiente político marcado pela recente destituição da presidente Dilma Rousseff, substituída por seu então vice-presidente, Michel Temer (PMDB-RJ).

No Rio, o assassinato, na última segunda-feira, do presidente da Portela e candidato a vereador, Marcos Falcon (PP), o Falcão, voltou a evidenciar o papel das milícias. Na capital, os milicianos – policiais e ex-policiais – chegam a cobrar R$ 120 mil, numa espécie de pedágio, de candidatos que queiram fazer campanha em áreas controladas pelo tráfico.

“Estamos assistindo a uma série de assassinatos, e tudo indica que há uma conexão entre interesses políticos em conflito e as milícias”, disse Michel Misse, especialista em assuntos de violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As milícias são herdeiras dos “esquadrões da morte”, que na época da ditadura militar (1964-1985) “eram contratadas por comerciantes ou chefes políticos para ‘limpar’ a Baixada Fluminense de pequenos delinquentes ou adversários incômodos”, relembra outro especialista no tema, Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Clique aqui e conheça o perfil dos candidatos(as) assassinados.

Fonte: UOL/Eleições; jornal O Tempo; O Estado de São Paulo e site Congresso em Foco.

Atualizado em 01/10/2016