Nota sobre o segundo turno das eleições 2008

Dom Joaquim Mol, bispo e reitor da PUC Minas, esclarece a posição da universidade e da igreja sobre o segundo turno das eleições 2008

Irmãos e irmãs,

Sou Dom Joaquim Mol, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Tomo a liberdade de lhes dirigir uma palavra, para falar da posição da Igreja neste importante momento político que estamos vivendo em nossas cidades de Belo Horizonte e Contagem: a eleição para prefeito, em segundo turno. Como vocês sabem, Dom Walmor está participando do Sínodo dos Bispos, em Roma.De lá ele acompanha a nossa Arquidiocese com zelo, carinho, e cuidado de pastor. Por isso eu mesmo lhes dirijo esta palavra.

Primeiro, esclareço que, a orientação do arcebispo e dos bispos auxiliares aos padres sobre a política é a orientação oficial da igreja.

A posição institucional da Igreja, já conhecida de todas as pessoas, continua a mesma: ela tem a nobre missão de colaborar na conscientização das pessoas sobre todos os aspectos da vida, inclusive a política, que é tão importante para a coletividade. Ela educa e ajuda na formação para a cidadania e para a responsabilidade de cada um. Por isso a Arquidiocese, através do seu Núcleo de Estudos Sociopolíticos, Nesp, desenvolveu o projeto chamado “Eleições 2008”, que atua desde fevereiro, em preparação às eleições.

Com isto, estou lhes reafirmando que a Igreja não tem candidato, muito menos partido, conseqüentemente, ela não faz propaganda político-partidária. A Igreja é livre, inclusive porque ela é uma instância crítica de todo poder público para denunciar o que é prejudicial ao povo e apoiar o que é bom para o povo. Diferentemente de muitas Igrejas, como vocês sabem, a Igreja Católica, institucionalmente, não faz campanha eleitoral. Ela faz campanha de co-responsabilidade. Por isso, solicitamos, mais do que isto, convocamos padres, leigos e todos os eleitores de Belo Horizonte e Contagem a se ajudarem no discernimento e escolha daquelas pessoas que melhor servirão a estas duas cidades, cujo povo merece bons governantes, sob todos os aspectos. Verifiquem tudo: histórico, trajetória, preparação, companhias, partidos, propostas, viabilidade dos projetos e tudo que considerarem importante.

Há um outro aspecto. A Igreja é todo o povo de Deus. Os leigos, que são Igreja, estes sim, como cidadãos e cristãos, comprometidos com os valores do Reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo, podem e devem entrar no campo político partidário. Aí eles oferecem suas valiosas contribuições.

Os leigos podem e aqueles que têm vocação (o chamado do Senhor), devem se candidatar ao legislativo, ao executivo e trilhar os caminhos para o judiciário. Espera-se que não se associem a pessoas que se posicionam contra a justiça e a paz, a vida desde sua concepção até o seu ocaso natural, aos valores do Evangelho e da pessoa humana. Cabe à Igreja, inclusive, acompanhar com oração e apoiar com reflexões estas pessoas, reunindo-as num fórum permanente. O que estamos programando para ser feito, sistematicamente, a partir de agora.

Com estes dois aspectos da mesma Igreja – o compromisso institucional e o compromisso de cada cristão – temos elementos para discernir as posições tomadas pelas pessoas. Há padres e também leigos que envolvem a dimensão Institucional na política partidária. Há pessoas que usam a religião em função de interesses próprios, inclusive políticos e eleitorais. Estas situações merecem atenção e reflexão por parte de todos. Por outro lado, as campanhas eleitorais, como temos visto, de modo geral, não primam pela objetividade, informação e apresentação de propostas; são utilizados recursos terríveis tais como: demagogia, encenação de personagem, engano, frases de efeito, mentira, agressão, emocionalismo, populismo, obscurantismo…

A Igreja Católica tem muito a fazer no campo político, juntamente com todas as instituições de bem: ajudar a melhorar a política, seja através da formação, seja através da oferta de pessoas boas e bem sintonizadas com a Igreja para o serviço político de qualidade, que o povo tanto precisa.

Vamos continuar trabalhando arduamente.

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor infinito do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com vocês e suas famílias.