[DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA]: registros de um país racista

Em 20/11/2019, seleção de reportagens de agências de notícias

20 de novembro: conheça a história do dia da Consciência Negra

Estátua em homenagem a Zumbi em União dos Palmares (AL) - Créditos: Reprodução
Estátua em homenagem a Zumbi em União dos Palmares (AL) / Reprodução

O dia da Consciência Negra existe oficialmente desde 2003 como uma celebração escolar e desde 2011 como lei. A data marca a morte de um dos maiores lutadores contra a escravidão no Brasil, Zumbi dos Palmares. Apesar da celebração na data, estátuas e monumentos que levam o seu nome, a história de Zumbi e do Quilombo dos Palmares é pouco conhecida. 

A história conta que filho de Sabina, Zumbi nasceu livre em 1655 no estado de Alagoas. Ainda pequeno, foi entregue a um padre e batizado com o nome de Francisco. Foi quando ele aprendeu a falar português e a participar do cotidiano de celebrações da igreja até os 15 anos, quando decidiu voltar ao quilombo dos Palmares, até então governado pelo seu tio Ganga Zumba. 

O Quilombo dos Palmares ficava na região da Serra da Barriga, hoje território alagoano e é considerado por historiadores como o maior quilombo da América Latina, chegando a ter uma população de 20 mil habitantes de negros e negras que fugiram da escravidão, indígenas e pessoas consideradas “fora da lei” na época. O Quilombo era, na verdade, uma junção de pequenos mocambos, nome a dados à pequenas comunidades, sendo o centro político de Palmares o mocambo do Macaco.

 Lá, a terra e a produção eram coletivizadas, sendo a agricultura a principal atividade do local. Documentos também apontam a existência de olarias, oficinas de metalurgia, criação de pequenos animais e artesanato, que era vendido nas pequenas vilas nos arredores e enviados também para aqueles que não conseguiam fugir do domínio dos senhores de engenho. 

A grandiosidade e prosperidade do Quilombo assustava os escravocratas, que viram durante anos as fugas das senzalas em direção a Palmares. Por isso, na segunda metade do século XVII iniciaram expedições para atacar e destruir o local, mas todas sem sucesso. Para diminuir os ataques, em 1678 Ganga Zumba vai ao Recife para negociar com o então governador do estado, D. Pedro de Almeida. O acordo foi de que os nascidos em Palmares seriam considerados livres; todos que aceitassem o acordo seriam retirados da serra e receberiam terras para viver; seria proibido abrigar novos escravos fugidos e os que garantissem sua liberdade seriam considerados propriedades da Coroa. O acordo causou confusão especialmente entre os que eram considerados fugitivos, já que teriam que renunciar a sua liberdade. Logo após o acordo, Ganga Zumba é morto, sendo a principal suspeita da sua morte um envenenamento. A partir daí, seu sobrinho Zumbi passa a governar Palmares, numa época de muitos ataques e expedições financiadas pela Coroa. 

Em 1694, é feita a maior investida contra o Quilombo, sob o comando de Domingos Jorge Velho e Vieira de Mello, que centraram forças na destruição do mocambo do Macaco. Em meio ao combate Zumbi é ferido, mas consegue fugir. Só em 1695, no dia 20 de novembro, Zumbi é entregue por um antigo companheiro, é morto e tem sua cabeça exposta no Pátio do Carmo, em Recife, para desmentir os rumores da época de que o líder de Palmares era imortal. 

A data passou a ser celebrada pelo Movimento Negro a partir da década de 1960 como uma forma de valorização da comunidade negra e da sua contribuição na história do país. Hoje, a data é oficializada pela lei nº 12.519/2011 e celebra a resistência do povo negro contra a escravidão e a luta contra o racismo no Brasil, tendo Zumbi como um dos principais lutadores da história pela liberdade. Atualmente, a data é feriado municipal em mais de mil cidades e estadual em Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro.

Fonte: Brasil de Fato

Negros têm mais chances de serem mortos e são menos eleitos

Estudo ‘Desigualdades Sociais por Cor ou Raça’ foi divulgado pelo IBGE e mostra a realidade da população negra no país em contraste com brancos.

A violência vivenciada na escola também atinge mais a população preta e parda do que a branca
A violência vivenciada na escola também atinge mais a população preta e parda do que a branca
(Marcello Casal jr/Agência Brasil)

A população negra tem 2,7 mais chances de ser vítima de assassinato do que os brancos. É o que revela o informativo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” no Brasil, divulgado nesta quarta (13), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também revela que os negros estão sub-representados no Poder Legislativo. 

Segundo a analista de indicadores sociais do IBGE Luanda Botelho, enquanto a violência contra pessoas brancas se mantém estável, a taxa de homicídio de pretos e pardos aumentou em todas as faixas etárias.

Fonte: Agência Brasil e Dom Total

Empresas devem dar espaço a jovens para reduzir desigualdades

Para reduzir as desigualdades e problemas de inclusão de negros dentro das empresas é preciso dar espaço aos jovens, disse o vice-presidente financeiro da Bayer, Maurício Rodrigues. “A maior oportunidade vem da atração de jovens. Eu vejo uma geração completamente distinta da minha. Tenho 45 anos e a minha geração, de certa forma, era um pouco covarde. Talvez, por pouca visibilidade, pouca voz, ela não foi tão empoderada a lutar pelos direitos”, afirmou ao participar da 7ª Jornada da Diversidade, promovida pela Faculdade Zumbi dos Palmares.

Após contar um pouco da própria história de vida, Rodrigues disse que vê o potencial de mudança da cultura corporativa na disposição da geração que começa a ingressar agora na vida profissional. “É impressionante a força que as pessoas têm. Elas já vêm formadas em um ambiente distinto”, enfatizou.

O executivo não afastou, no entanto, a responsabilidade das corporações em tornar os ambientes mais inclusivos. “Eu acho que há uma responsabilidade nossa de fazer isso. Mas esse público que está vindo chega exigindo um nível de espaço que, na minha geração, não existiu”, ressaltou.

Ambiente preconceituoso

“A minha relação com o tema vem evoluindo ao longo do tempo”, contou sobre o próprio processo, que permitiu que ele se tornasse um dos poucos negros a ocupar posição de destaque em uma multinacional.

“Eu era o único negro do colégio Bandeirantes, o único da escola de inglês que eu fazia, da universidade”, ressaltou sobre como se considera um privilegiado, apesar de ter sofrido com o preconceito ao longo da vida.

“Você se acostuma com aquele cenário e vivencia aquilo para sobreviver”, disse sobre como tentava ignorar o racismo presente nas relações pessoais com grupos formados por brancos.

Por entender essa situação, Rodrigues defende que a inclusão passa por preparar os jovens para atuar dentro de um ambiente corporativo hostil.

“O ambiente vai continuar sendo, em grande medida, preconceituoso. A questão é como a gente equipa as pessoas em termos educacionais, como a gente faz com que elas entrem na empresa e se sintam bem-vindas”, disse.

Para ele, as mudanças serão lentas. “É muito difícil imaginar que, da noite para o dia, nós vamos ter metade da diretoria, metade dos vice-presidentes negros”, acrescentou.

Meritocracia não é desculpa

O vice-presidente de Relações Corporativas da Companhia de Bebidas das Américas (Ambev), Ricardo Gonçalves Melo, destacou que histórias de superação pessoal não podem ser usadas para tirar a responsabilidade das corporações por garantir a diversidade em seus quadros.

“A gente sempre fala que não pode usar meritocracia como desculpa. A gente precisa assumir os nossos erros, os nossos problemas, enxergar onde estão os problemas e atacar a causa”, afirmou.

Fazendo a autocrítica da própria Ambev, Melo contou que até este ano a empresa não tinha noção da composição racial e de gênero do seu quadro de funcionários.

“Apenas neste ano fizemos o nosso primeiro censo. Estou falando daqui de uma empresa centenária. A gente não sabia nem o tamanho do que a gente tinha na mão. Agora, nós sabemos. É o começo de uma jornada muito longa”, acrescentou.

Fonte: Agência Brasil