5º Encontro Arquidiocesano de Fé e Política discutiu uma Igreja em saída na defesa e promoção da cidadania

Em 30/11/2019, por Nesp e Observatório da Evangelização –

A espiritualidade e a mística ganharam espaço na abertura do 5º Encontro Arquidiocesano de Fé e Política, ocorrido no sábado, dia 30 de novembro. Uma celebração relembrando figuras marcantes na inserção sociopolítica transformadora, como Chico Mendes, Dom Oscar Romero, Marielle Franco, Padre Josimo, Margarida Alves, a pequena Ágatha, entre outros importantes lutadores do passado e do presente foram destaques no momento de espiritualidade.

Celebração de abertura do 5º Encontro Arquidiocesano de Fé e Política

Na sequência, Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, apresentou a programação do evento e destacou as parcerias que promoveram o encontro: o Vicariato Episcopal Pastoral para a Ação Social e Política, o Coletivo de Fé e Política na Arquidiocese de BH e o Movimento Mineiro de Fé e Política. Lembrou, também, da participação de setores do ANIMA PUC Minas, como o Observatório da Evangelização, responsável pela cobertura jornalística do evento.

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães

Logo após, Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, reitor da PUC Minas e bispo auxiliar da Arquidiocese de BH proferiu a primeira conferência do dia. Dom Mol apresentou alguns aspectos referentes ao contexto ‘Fé, Política e Movimentos Sociais’ presentes nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovadas durante a Assembleia dos Bispos da CNBB, em maio deste ano. Em sua exposição, Dom Mol ressaltou que “diante do que propõe a Igreja de Francisco precisamos dar as mãos às outras Igrejas, àqueles que percorrem outros caminhos de fé, outras religiões, e com todos os homens e mulheres de boa vontade, e assim dar as mãos para os movimentos sociais populares. Conscientes de que o Senhor está no meio de nós, a Diretriz de número 67, da CNBB, diz que é necessário termos resistência e resiliência para não desistirmos”, finalizou.

Após a conferência, os participantes se dirigiram para o prédio 14, na PUC Minas (campus Coração Eucarístico) onde foram realizados os grupos de discussão, que utilizaram a metodologia de roda de conversa para discutir os seguintes temas: como fortalecer os Grupos de Fé e Política; meio ambiente: agrotóxicos, grilagem, questão indígena; comunicação e política no Brasil: as fake news; evangelização nas vilas e favelas; eleições 2020: pensar as cidades; mineração e soberania popular; deliberações da Sexta Assembleia do Povo de Deus da Arquidiocese de BH;  reforma tributária e auditoria cidadã da dívida; privatizações e soberania no Brasil; fundamentalismo religioso e o Movimento Mineiro de Fé e Política.

Roda de conversa sobre “como organizar grupos de fé e política”

Depois das rodas de conversa, os participantes ouviram a segunda conferência do dia, com o sociólogo Pedro Ribeiro, professor e um dos coordenadores do Movimento Nacional de Fé e Política, que apresentou uma análise de conjuntura sociopolítica e religiosa.

O sociólogo Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro considerou quatro pontos fundamentais para o entendimento do contexto atual:  compreender como o sistema de vida da terra está sendo destruído pelo capitalismo; como o sistema-mundo (capitalista, colonialista, patriarcal e antropocêntrico) está em crise pela perversa concentração de riqueza e renda; como a geopolítica do sistema-mundo se encontra em guerra para manter essa “economia que mata” funcionando e, por fim, o momento conjuntural do Brasil.

Ao analisar a conjuntura brasileira o sociólogo destacou a situação paradigmática da Amazônia, alvo do capitalismo predatório. Para Pedro Ribeiro, usa-se da estratégia da doutrina do choque para destruir o atual ecossistema amazônico: após os desastres ambientais (queimadas, grilagem, mineração…), apresenta-se a salvação econômica e social pela via do mercado, através de uma sórdida campanha midiática.  Com essa estratégia, o atual governo federal pretende afrouxar os limites legais e legalizar terras queimadas e invadidas; privatizar reservas ambientais; implantar empresas em territórios indígenas; atrair capitais de fora para empresas locais e eliminar defensores/as dos direitos ambientais e humanos.

Foi exibida para os presentes uma mensagem de vídeo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, especialmente dirigida aos participantes do encontro. O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB reafirmou que, inspirada no Papa Francisco, a Igreja atua numa perspectiva de fortalecimento da cidadania. Dom Walmor pediu aos cristãos que enfrentem as polarizações e que a Igreja não é partido, nem clube, nem associação.

Alguns coordenadores das rodas de conversa apresentaram encaminhamentos práticos deliberados durantes as discussões.

Para encerrar o encontro, Adriana Penzim, da equipe do Nesp, apresentou a nova publicação do Núcleo, que foi distribuída aos presentes no encontro. Trata-se do lvrro “NA CIDADE: micropolíticas e modos de existência”, voltado para temáticas atinentes à vida na cidade e à problemática da existência urbana. No mundo contemporâneo, as grandes cidades constituem-se em local de convergência de interesses econômicos e políticos, constituindo-se em locus privilegiado de um processo de produção de modos de ser e de viver. A organização espacial da sociedade espelha claramente as relações de poder ali presentes e, no Brasil, é nas cidades que se expressa de modo contundente a absurda desigualdade social. É nesse contexto que se passam as diversas experiências focalizadas na publicação.

Fonte: Robson Sávio (texto), com informações e fotos de Comunicação ANIMA PUC Minas e Observatório da Evangelização (Janaína Gonçalves e Camilla Moreira).