Ato com grupos autoritários é incentivado por Bolsonaro. Veja as reações e repercussões.

Em 26/02/2020, por UOL

Em reação a fala do general Augusto Heleno, manifestação marcada para 15 de março ataca Congresso e defende militares

Presidente Jair Bolsonaro em Brasília -
Presidente Jair Bolsonaro – Foto: UOL

Incentivados por parlamentares bolsonaristas e pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, ativistas conservadores preparam um ato que tem provocado reações de repúdio ao pregar bandeiras de extrema direita, contrárias ao Congresso e em defesa de militares e do atual governo. 

A manifestação, marcada para 15 de março, é uma reação à fala do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, que chamou o Congresso de “chantagista” na semana passada.

O ato estava previsto desde o final de janeiro, mas acabou mudando de pauta para apoio a Bolsonaro e encorpando insinuações autoritárias após Heleno atacar o Legislativo.

Pelas redes sociais e por WhatsApp, apoiadores do presidente postam imagens de ataque ao Congresso, retirada dos comandantes da Câmara e do Senado e de alusão ao uso das Forças Armadas no movimento.

O próprio presidente Jair Bolsonaro encaminhou a amigos um vídeo que convoca a população a ir às ruas no dia 15 de março para defendê-lo. A informação foi confirmada à Folha pelo ex-deputado federal Alberto Fraga (DF).

“Eu recebi um vídeo, ele [presidente] me encaminhou. Mas não foi ele que fez o vídeo. Confesso que não entendi assim [como um incentivo]. Ele nunca fez esse tipo de pedido. Quem está fazendo isso são os bolsonarianos pelas redes sociais. Para mim, mesmo, ele não falou absolutamente nada”, disse Fraga, que é amigo pessoal do presidente.

Ao menos seis congressistas bolsonaristas já manifestaram apoio à mobilização: Carla Zambelli (PSL-SP), Filipe Barros (PSL-PR), Guiga Peixoto (PSL-SP), Aline Sleutjes (PSL-PR), Delegado Éder Mauro (PSD-PA) e a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS).

FHC, Lula, Dilma e outros políticos criticam Bolsonaro

Diversos políticos, de esquerda e de direita, manifestaram-se contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem compartilhado vídeos via WhatsApp em apoio às manifestações pró-governo e contra o Congresso Nacional marcadas para 15 de março.

Nas redes sociais, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT) condenaram a atitude de Bolsonaro.

“A ser verdade, como parece, que o próprio Presidente da República tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso (a democracia) estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto de tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo”, escreveu FHC no Twitter.

O ex-presidente Lula foi mais duro na crítica e chamou Bolsonaro de “falso patriota” e “falso moralista”. “O que o Brasil precisa é gerar empregos, tirar o povo da pobreza. Bolsonaro nunca combinou com democracia. É um falso patriota que entrega nossa soberania aos EUA e condena o povo à pobreza. Um falso moralista que acoberta o Queiroz e outros corruptos e criminosos”, disse Lula no Twitter.

Para Dilma, a atitude do presidente fere a democracia e aumenta o risco de o país retornar aos tempos da ditadura militar. “Bolsonaro e o general Heleno estão atentando descaradamente contra a Constituição e a democracia ao convocar manifestação contra o Congresso Nacional. Torna-se urgente e necessária forte resposta das instituições ou o país mergulhará, mais uma vez, na escuridão das ditaduras”, tuitou Dilma.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ) e os adversários de Bolsonaro na corrida presidencial de 2018 Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) também se manisfestaram nas redes sociais.

Decano do STF, Celso de Mello aponta crime de responsabilidade de Bolsonaro

Leia a Nota do decano do STF, ministro Celso de Mello:

“Essa gravíssima conclamação, se realmente confirmada, revela a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato, de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República, traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático!!!

O presidente da República, qualquer que ele seja, embora possa muito, não pode tudo, pois lhe é vedado, sob pena de incidir em crime de responsabilidade, transgredir a supremacia político-jurídica da Constituição e das leis da República!”

Fonte: UOL e Brasil 247