50 milhões de brasileiros têm um parente ou amigo assassinado
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apresenta uma estatística inédita no país: a violência sob a perspectiva dos que sobrevivem. Os números levantados mostram que um em cada três brasileiros com 16 anos ou mais têm um parente ou amigo vítima de homicídio ou latrocínio. Em números absolutos estamos falando de pelo menos 50 milhões de brasileiros.
O levantamento também mostra que a população entende que é necessário ampliar a articulação governamental em torno do enfrentamento à violência. Quase todos os entrevistados, 94%, reconhecem que o nível de homicídios é muito alto no Brasil e 96% acreditam que as diversas esferas do governo precisam se unir para diminuir os crimes e a violência, já que a obrigação não seria somente das polícias, mas também do governo federal (para 84% dos entrevistados), dos estados (83%), dos municípios (81%) e do Congresso Nacional (77%).
O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, destaca o principal recado que a pesquisa traz: a população não tolera mais a violência. Para Renato, ninguém aguenta mais o jogo de empurra sobre quem é o responsável pela segurança. “As pessoas estão exaustas da violência e estão pedindo socorro. Todo mundo é responsável. E elas apontam uma solução, que é a unificação da União, dos estados, municípios, das polícias, para que o assunto seja tratado como prioridade”, comenta.
O papel das polícias também tem destaque importante na pesquisa. Entre 5,9 milhões e 20,2 milhões têm um parente, amigo ou conhecido que foi morto pelas polícias ou guardas municipais, percentual que se eleva entre os mais jovens, chegando a 17% da população entre 16 e 24 anos. Além disso, 92% afirmam que todos têm direitos iguais e devem ser respeitados pelas polícias e 93% afirmam que a polícia deve preservar a vida acima de tudo. “Não é essa polícia que os brasileiros querem. Queremos uma polícia mais próxima, mais valorizada, respeitada e confiável. A mudança, por um lado, passa por medidas de modernização da área e, por outro, por inovações gerenciais e boas práticas. Hoje a gente bate muita cabeça, trabalha demais, mas os resultados são insatisfatórios”, comenta Renato.
Armas de fogo – Em meio ao cenário de tanta violência, na Câmara dos Deputados, a bancada da bala pressiona o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) para pautar com urgência a votação em plenário do substitutivo que revoga o Estatuto do Desarmamento. Os deputados querem tornar menos rígidas as regras para a compra, registro e porte de armas de fogo no país. A expectativa deles é aprovar a matéria no final deste semestre. A iniciativa, no entanto, contraria a vontade da maioria da população. Segundo dados da pesquisa, 78% dos entrevistados acreditam que quanto mais armas em circulação, mais mortes haverá no país, reforçando a importância do controle de armas na redução da violência.
Os números também mostram que 4% das pessoas maiores de 16 anos, de 4,9 milhões a 7,5 milhões, considerando a margem de erro, já sofreram algum ferimento por arma de fogo. O diretor-presidente do FBSP destaca que este é outro aspecto muito importante do levantamento. “A população tá sentindo na própria pele a violência. As pessoas estão sendo feridas. Se a gente não pensar no controle da arma, a gente está incentivando a barbárie”, comenta Renato Lima.
Diferenças regionais e raciais – A pesquisa também discrimina dados relativos à violência regional. Segundo dados levantados a região Sul do país é a mais segura, apenas 27% dos entrevistados têm algum parente ou conhecido assassinado. A estatística, que já é alarmante no sul, fica ainda pior no Norte e no Centro-Oeste onde 45% da população respondeu afirmativamente à pesquisa. O sudeste é o terceiro com 37% e o Nordeste segue de perto com 37%.
A pesquisa também fez distinção por raça dos entrevistados. Segundo o Datafolha, 38% da população negra têm alguém próximo que foi assassinado, em comparação com 27% da população branca. Dos entrevistados, 64% reconhecem que as maiores vítimas da violência no Brasil são jovens, negros e do sexo masculino.
Responsabilidade – O instituto Datafolha também perguntou aos entrevistados quem eles julgavam ser o principal “culpado” pelos dados alarmantes. Para 84% da população, o governo federal é o principal responsável, e para tanto, deve se movimentar para garantir a segurança no país mais do que as unidades da Federação. Apesar da resposta, é importante salientar que, segundo a constituição federal, a segurança pública é uma responsabilidade dos governos estaduais.
Desaparecidos – Segundo a pesquisa, 17% dos brasileiros, ou 23,8 milhões de pessoas, têm algum parente, amigo ou conhecido desaparecido.
Armas – 78% da população acredita que, quanto mais armas em circulação no país, mais mortes.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Correio Braziliense/Diário de Pernambuco