Unidade São Gabriel: Reitor abre debate sobre as perspectivas para as eleições de 2018
O reitor da PUC Minas e bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, fez a abertura, na última sexta-feira, 28 de setembro, de debate sobre as perspectivas para as eleições de 2018, realizado na Unidade São Gabriel. Dom Mol mencionou a importância da participação da juventude nas discussões políticas, sendo capaz de “dar um rumo interessante nesse processo eleitoral”. Mencionou a atenção da população extremamente concentrada nas eleições dos candidatos aos governos estaduais e para a Presidência da República, dando pouca ênfase às casas legislativas e ao Congresso Nacional.
O debate abrangeu questões como a extrema polarização existente hoje na sociedade, a descrença na política e os possíveis cenários de um provável segundo turno. O evento foi realizado pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC Minas, pela Arquidiocese de Belo Horizonte e pela Unidade São Gabriel. Participaram do debate Orion Teixeira, colunista político da TV Bandeirantes, Malco Camargos, cientista político e professor da PUC Minas, Claudemir Alves, professor da PUC Minas e membro do grupo gestor do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da PUC Minas, e Lucas Cunha, pesquisador do Centro de Estudos Legislativos do Departamento de Ciência Política da UFMG.
Leia na íntegra o pronunciamento do professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães:
É uma alegria muito grande nos encontrarmos aqui, com a participação efetiva dos estudantes da PUC Minas e também dos professores para um evento igualmente importante, no qual vamos tentar aprofundar um pouco este momento difícil que é o processo eleitoral no nosso país. A participação, a presença de vocês e, de modo muito especial, de toda essa juventude lotando o auditório, com gente em pé, é um sinal efetivo de esperança. Porque nós precisamos da capacidade de compreensão, de inteligência da juventude para ajudar a discernir as escolhas que devemos fazer. Não é fácil fazer escolhas, nenhuma escolha na vida é fácil e esta é uma das mais difíceis. Por isso, ao vir aqui fazer esta abertura, eu quero reafirmar a minha confiança nesta capacidade da juventude de discernir as melhores escolhas, que podem ajudar de fato a dar um rumo interessante nesse processo eleitoral, já na sua fase final, apostando, não só por merecimento, mas, sobretudo, pelas grandes causas do nosso país, na sua necessidade de ser um país melhor.
Não posso deixar de fazer uma referência muito interessante, a meu ver, a uma palavra forte, contundente de um dos maiores líderes mundiais hoje, que é o Papa Francisco, reconhecido por pessoas de diversas formas, categorias, nações, concepções as mais variadas. É um homem cuja palavra tem sido ouvida com atenção e eu penso que esta palavra dele nos ajuda na iluminação deste momento que estamos vivendo, deste momento eleitoral, que exige análises profundas. Trago aqui a palavra do Papa Francisco, que eu penso que deveria reverberar um pouquinho na contribuição de cada um dos convidados a participar desta mesa. Olha que coisa importante que diz este homem, já com mais de 80 anos de idade, no documento Evangelii Gaudium: “Uma das causas dessa situação [situação em que ele diz que o mundo idolatra o dinheiro] está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades”. Agora, veja o salto que ele dá: “A crise financeira que atravessamos nos faz esquecer de que na sua origem há uma crise antropológica, profunda, que é a negação da primazia do ser humano”. E parece-me que isso está bem na raiz da atenção que nós devemos dar no momento de escolha daqueles que vão nos governar. Porque, se a gente coloca o ser humano abaixo do dinheiro, certamente nós estaremos colocando o próprio ser humano abaixo do mercado e o trabalho abaixo do capital. Esta contribuição do Papa Francisco nos estimula, de fato, a fazer escolhas políticas de modo que elas possam reverter este quadro.
Há uma outra passagem, neste mesmo texto, que o Papa Francisco diz que a economia que nós vivemos hoje no mundo é uma hegemonia da economia de mercado. Ela – essa é expressão dele – ela mata. Mata as pessoas. Então, o que fazer? A quem escolher? Quem merece o nosso voto? Quem tem as condições? Quem tem a visão de Brasil, de mundo que será capaz de dar passos no processo de diminuição das desigualdades sociais? Quem está de fato comprometido com os interesses populares? Quem de fato, num momento como este do Brasil, é capaz de garantir a ordem democrática de estado de direito? De modo que nós tenhamos um estado que leve em conta a situação social do povo brasileiro. Um estado que seja capaz de colocar-se a serviço de todas as necessidades do povo brasileiro.
Gostaria ainda de destacar dois pontos. O primeiro deles é que, nesta busca de identificação das pessoas organizadas nos partidos que estão aí se oferecendo ao povo brasileiro para poder fazer a governança do nosso país em todos os níveis, nós vivemos hoje algo muito curioso e que não deveria ser desta forma, a meu ver. Uma atenção extremamente concentrada nas eleições dos executivos, tanto nos governos estaduais, como na Presidência da República e, um pouco à margem deste caminho, a eleição para os homens e mulheres das casas legislativas e o Congresso Nacional. Eu imaginava, antes desta legislatura que agora está para terminar no Congresso Nacional, que nós tínhamos chegado à legislatura anterior – sobretudo por causa de um certo movimento que fizemos, em nome da CNBB, em prol de uma reforma política verdadeira no nosso país -, eu pensava que aquela legislatura anterior tivesse sido a pior da história do nosso país republicano. E para a surpresa de muitos de nós, o atual Congresso Nacional é o que existe de pior na história do nosso país. Não tem jeito de ser pior do que está, penso.
Então, nós colocamos lá nesse Congresso pessoas completamente desqualificadas para poder enfrentar toda essa situação, essa realidade difícil do nosso país. E não pensem, ou não pensemos nós, que o problema do país se resume apenas à corrupção. Este é um dos problemas. Mas há um outro problema que é o direcionamento que estes homens e mulheres dão ao nosso país, por causa da visão que têm.
Feito isto, o último ponto – e aí, digo também, com muita afeição, com muito respeito por todos vocês que estão aqui. Nós estamos expondo, de uma maneira muito clara, a pouca capacidade que temos de dialogar sobre assuntos difíceis como estes no nosso país. Isto se revela pelo nível da violência, da agressividade das discussões. Nós, do mundo universitário, os discentes de uma universidade, os jovens universitários, os professores universitários, precisamos dar uma contribuição para o dialogo maduro, para o diálogo capaz de construir pontes/relações para fazer prevalecer exatamente a boa escolha, ou as boas escolhas, que nós precisamos fazer. Corremos o risco grave, sério de termos aqui a oportunidade de até acertar melhor tudo isso ou desvirtuar de vez o caminho do nosso país. Por isso, cuidemos, sejamos uma comunidade aqui reunida, gente sentada de todas as formas, inclusive os jovens que estão ali no chão, vamos dar esse exemplo de levarmos a cabo o fundamento mais exigente, que é esta discussão, mas de uma maneira firme, propositiva, de resultado da convicção. Mas que não estimule nenhum tipo de agressão, para que isso também não nos diminua dentro do processo de salvamento da própria política. Porque isso depende do povo e não dos políticos que lá estão, somos nós que precisamos fazer com que aquela Casa seja melhor e os nossos governantes sejam melhores.
Um bom evento para todo mundo, vamos ouvir com muita atenção aqueles que conhecem profundamente o assunto, a matéria, e vamos discutir, aprofundar, e assim, darmos também a nossa contribuição. Gostaria mesmo de ter muitas mãos para retribuir o aplauso de vocês com muita alegria.
Muito obrigado.
Fonte: Portal PUC Minas