Volta o fantasma da recessão econômica mundial
Em 26/08/2019 – Do El País
Dados ruins do comércio e indústria e riscos geopolíticos avivam o medo de contração das grandes economias, como Alemanha, Itália ou mesmo os EUA
Os economistas são bastante ruins na hora de predizer recessões. Esta é a principal conclusão de um artigo publicado no ano passado pelo FMI. O texto analisava os casos de 63 países entre 1992 e 2014, e seus três autores concluíam que os especialistas geralmente só percebem os tombos econômicos depois que eles acontecem. Levando-se em conta esse resultado tão pífio – atribuível não só aos economistas, já que os jornalistas não costumam acertar muito mais –, fica arriscado anunciar uma nova recessão quando em muitos países ainda não se apagaram as marcas da anterior.
Apesar disso, o temor de que grandes potências, como Alemanha, Itália, Reino Unido ou mesmo os EUA, encadeiem mais de dois trimestres sucessivos de contração do PIB cresceu nas últimas semanas, refletindo as tensões comerciais e políticas, o nervosismo do mercado e os dados negativos de crescimento e produção industrial que chegam de algumas capitais. A economia mundial está esfriando. Em sua revisão de julho, o FMI rebaixou sua previsão de crescimento global para 3,2%.
No segundo semestre do ano passado, quando a economia global começava a dar sinais de esgotamento, Daniel Gros, diretor do think-tank belga CEPS, negava a este jornal a possibilidade de uma nova crise. Contatado novamente agora, Gros matiza sua resposta. “Acho improvável uma grande crise. Mas estamos nos aproximando de uma recessão em algumas partes da Europa, e inclusive nos EUA, talvez já no próximo ano”, responde. Na verdade, nada de radicalmente novo ocorreu. Os anúncios de novas tarifas comerciais entre os EUA e a China, que voltaram com força na sexta-feira, são apenas o agravamento de um conflito que começou em 2018. O problema é que os riscos que pululam há meses – além da guerra comercial, acumulam-se também fragilidades nos mercados emergentes, a perspectiva de um Brexit sem acordo... –, longe de se diluírem, apresentaram-se com mais força nas últimas semanas. E, como repete o presidente do BCE, Mario Draghi, o simples prolongamento da incerteza já representa por si só uma materialização dos riscos.
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