Eleições 2020: Sem avanços nos controles, redes sociais terão papel decisivo na eleição
Em 17/08/2020, via Portal O Tempo.
Plataformas foram cobradas em diversos países sobre controle de divulgação de notícias falsas, mas mudanças pouco avançaram segundo especialistas.
Sem mudanças significativas na legislação e nas políticas internas, as redes sociais vão manter o protagonismo e a relevância nas eleições municipais deste ano.
Dois especialistas avaliam que as “regras do jogo” em plataformas como Facebook, Instagram, WhatsApp, Twitter e YouTube (o posicionamento das empresas na íntegra pode ser conferido ao final do texto) são praticamente as mesmas do que as das últimas eleições, mas adotam posições diferentes em relação à necessidade de mudanças.
“Se eu fosse um marqueteiro malicioso, hoje eu construiria minha campanha no WhatsApp porque funcionou na eleição de 2018 e a plataforma não tomou medidas eficazes. A minha expectativa é que, se houver jogo sujo, será nessa plataforma”, disse o professor de Gestão de Políticas Públicas da USP e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, Pablo Ortellado.
Ele argumenta que não é possível rastrear a origem de mensagens virais na plataforma, o que serve de estímulo à difusão de notícias falsas no WhatsApp. A rastreabilidade de mensagens virais é um dos pontos do que ficou conhecido como “PL das Fake News”, aprovado no Senado e em discussão na Câmara.
Desde as eleições de 2018, o WhatsApp adotou medidas para desacelerar a viralização de mensagens. Em 2019, o encaminhamento de mensagens passou a ser limitada a cinco pessoas por vez. Em abril deste ano, mensagens frequentemente encaminhadas foram limitadas a um encaminhamento por vez. O WhatsApp afirma que houve uma redução de 70% no número de mensagens frequentemente encaminhadas. “Vale ressaltar que a maioria das mensagens trocadas no WhatsApp – 9 em 10 mensagens – são enviadas de apenas uma pessoa para outra”, disse a empresa, por meio de nota.
“Isso [as medidas adotadas] diminui e dificulta os encaminhamentos. É um passo na direção certa, mas não é suficiente”, afirma Ortellado, para quem a redução na frequência de mensagens encaminhadas não necessariamente significa redução na disseminação de mensagens de cunho político já que não há detalhes sobre o conteúdo das mensagens. “A determinação das pessoas para encaminhar um meme é diferente de um conteúdo político que elas consideram algo sério e necessário”.
Ele avalia que, à exceção do Facebook – que na opinião dele adotou as ações mais efetivas e endureceu as regras -, as demais plataformas deixaram a desejar.
“O YouTube estimula conteúdo inflamatório porque a monetização remunera muito bem canais com bastante acessos, o que permitiu o desenvolvimento de um ecossistema de desinformação, mas misturado com opinião, o que torna difícil separar o joio do trigo”, explica. “Já o Twitter tem um problema crônico de contas falsas. Eles não têm uma capacidade boa de diferenciar um programa automatizado de uma pessoa militante que está reiteradamente defendendo determinada causa”, avalia.
Adotando uma visão distinta de Ortellado, o cientista político e professor do Ibmec, Adriano Cerqueira, considera que a prática de atacar candidaturas sempre existiu e que foram “transportadas” de jornais e panfletos apócrifos para as redes sociais.
“O ambiente legal e institucional tem condição de combater isso identificando quando é uma calúnia e mandando punir”, disse, acrescentando que o mesmo ocorre em casos de difamações.
“O grande problema que eu vejo é em nome dessa chamada luta contra a fake news você reviver o mecanismo da censura e criar instrumentos que impeçam que uma opinião circule livremente porque você qualifica como informação falsa. É perigoso. Quem vai ser o grande censor?”, questiona.
Ele também ressalta o protagonismo que as redes sociais devem ter nas eleições de 2020. Em pesquisas realizadas nos últimos anos, Cerqueira afirma ter verificado que as pessoas cada vez mais têm as plataformas como fonte primária de informação sobre a política municipal em cidades mineiras. Segundo ele, a intensidade é maior em municípios que não têm um meio de comunicação tradicional – como um canal de TV ou jornal local.
“É um fenômeno que acontece em todas as faixas etárias. Não tem um marco social forte: pessoas de baixa renda acessam via celular. Eu não vejo como parar”, afirma. “Se os candidatos não estiverem usando as redes sociais, estarão usando contra eles. Então é necessário monitorar o que está acontecendo”, completa o cientista político.
A expectativa é que as redes sociais ganhem ainda mais relevância por causa da pandemia do novo coronavírus, que dificulta a realização de eventos presenciais durante a campanha eleitoral.
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Fonte: Portal O Tempo