SÍNTESE DO 6º ENCONTRO ARQUIDIOCESANO DE FÉ E POLÍTICA
Encontro discutiu resultados de pesquisa sobre as expectativas de formação para as eleições de 2022. Espera-se que a intervenção dos cristãos na política deve ser uma prioridade e precisa obedecer aos princípios da Doutrina Social da Igreja.
O Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e Arquidiocese de Belo Horizonte (Nesp) realizou no último sábado (27/11) o 6° Encontro Arquidiocesano de Fé e Política. O evento, que acontece a cada dois anos, foi realizado em parceria com o Vicariato de Ação Social, Política e Ambiental (Veaspam) e com o Coletivo de Fé e Política na Arquidiocese de Belo Horizonte.
Normalmente, esses encontros acontecem nas instalações da PUC Minas. Desta vez, porém, o evento foi transmitido através das redes sociais e do canal do Nesp no YouTube. O formato foi escolhido em razão das medidas de segurança em face da pandemia.
Graças a essa circunstância, centenas de pessoas puderam participar do Encontro que reuniu pessoas de toda a Arquidiocese de Belo Horizonte e de muitas outras cidades de Minas Gerais, além de numerosas participações localizadas em todo o país. Nas redes sociais, foi intensa e proveitosa a troca de mensagens entre os participantes.
Os cristãos e a política
As discussões centrais do evento foram a atual crise econômica e política vivenciada no país e a atuação da Igreja nesse cenário. Para os integrantes do Encontro, é papel dos cristãos dar concretude à sua fé, ajudando a sociedade a construir alternativas à política atual.
Depois de uma espiritualidade, cujas raízes se aprofundam na doutrina social da Igreja, o encontro foi aberto pelo reitor da PUC Minas e bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães.
“Imagina o que é uma árvore doente na raiz? É assim que está o sistema social. Como diria o Papa Francisco, precisamos de caridade política, que é quando eu faço algo por um irmão que está próximo e eu decido me juntar aos outros para fazermos o bem a todos, sobretudo por meio das políticas públicas”, explicou Dom Mol.
Retomando a tradição do ensino católico sobre a vida em sociedade, Dom Mol destacou que a principal caridade política que pode ser concretizada hoje em dia é a renda básica universal. “Isso não é o auxílio emergencial. É um pagamento fixo incondicional a todos os cidadãos que poderia ser feito por meio de medidas tributárias. A renda básica poderia redefinir as relações de trabalho e o mercado”, completou.
Em um momento voltado especificamente à formação, passou-se à análise de conjuntura, conduzida em dois momentos. A primeira participação coube à militante Jessy Dayane, com uma notável trajetória que a levou do movimento estudantil para a coordenação do Levante Popular da Juventude. Em seguida, o filósofo, professor e cientista político Maurício Abdalla também contribuiu com uma análise sobre o quadro político atual no país e as perspectivas para o ano eleitoral que se aproxima.
Jessy Dayane partiu do contexto internacional do capitalismo e das consequências da desenfreada globalização, sobretudo, para a juventude. “Hoje vemos um desemprego estrutural que atinge os mais jovens. A informalidade, por exemplo, é integrada em sua maioria por eles”, observou. No âmbito nacional, Jessy Dayane destaca que, entre os maiores desafios, está a retomada da organização de base dos trabalhadores e a manutenção da unidade dos setores que defendem um modelo de sociedade mais justo.
Maurício Abdalla tratou do contexto nacional, especialmente a partir do impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016. Destacou também o papel das lideranças cristãs que podem contribuir para a superação desse momento crítico, como também, às vezes, podem contribuir para aprofundar o abismo. “Temos um país em ruínas, destruição total. E muitas lideranças religiosas, que deveriam atuar nesse contexto para mellhorar, muitas vezes, atuam de forma a piorar a situação; atuam de maneira anticristã”, afirmou.
“Pesquisa sobre formação política” revela expectativas dos movimentos no campo de Fé e Política na Arquidiocese de Belo Horizonte
A Casa Comum – Escola de Formação Política de Cristãos Humanistas ( do Nesp) – e o Coletivo de Fé e Política realizaram uma pesquisa para identificar a percepção dos participantes em movimentos e pastorais da Igreja Católica sobre os projetos de formação política conduzidos pelo Nesp e pelo Veaspam. Desejava-se também conhecer as demandas e expectativas relativas às ações formativas a serem realizadas em 2022, tendo em vista as eleições. A pesquisa foi apresentada pela socióloga Lílian Daniela, da equipe da Escola.
Os dados foram coletados ao longo de um mês, entre outubro e novembro, por meio de formulário divulgado pelas redes sociais. O foco foram agentes de pastorais e de movimentos sociais e os membros do clero. A amostra aleatória contou com 217 respondentes.
Questionados sobre os temas que devem ser priorizados nas atividades de formação política promovidas na Arquidiocese para o ano eleitoral de 2022, a maioria julgou três como fundamentais. São eles: importância da participação dos cristãos no processo eleitoral; importância do processo eleitoral para a garantia dos direitos humanos, sociais e políticos; e a importância do processo eleitoral para a garantia da democracia no Brasil.
A disseminação de desinformação e de ódio em relação à esfera política somado ao desinteresse político da população são os principais desafios das próximas eleições para a grande parte dos respondentes.
Perguntados a respeito dos temas prioritários a serem discutidos em planos de governo (federal e estadual), sobressaíram o combate à desigualdade social, a geração e emprego e renda e a melhoria na educação.
A pesquisa apontou ainda que 86,6% dos respondentes que conhecem os projetos desenvolvidos pelo Nesp e pela Arquidiocese de Belo Horizonte consideram que eles são importantes para a participação política e a tomada de decisão na escolha dos candidatos. Tal percentual reafirma a importância dos serviços prestados à comunidade pelo Nesp.
O levantamento ainda abrange outros questionamentos. Entre eles, se já existe alguma ação nas paróquias frequentadas pelos respondentes sobre as eleições do próximo ano. Segundo 50% deles, até o momento nada é feito.
O 6º Encontro Arquidiocesano de Fé e Política foi mediado pelo coordenador do Nesp, Robson Sávio, e contou com as participações de Zélia Rogedo, coordenadora do setor político e Pe. Júlio Amaral, coordenador do setor social, ambos do Vicariato Episcopal para a Ação Social, Política e Ambiental da Arquidiocese de Belo Horizonte; do coordenador do Coletivo de Fé e Política na Arquidiocese de BH, Frederico Rick e da coordenadora da Escola Casa Comum, Rachel Almeida.
O relatório do 6° Encontro Arquidiocesano de Fé e Política será publicado após a retomada das atividades a partir de fevereiro de 2022.
O conteúdo do Encontro está integralmente disponível no canal do Nesp no Youtube no link: https://youtu.be/W4aR2t010bY.
(Texto: Marcelo Gomes – Revisão: Claudemir Alves – Edição: Robson Sávio)