Deputados federais mineiros apoiaram o Projeto de Lei da grilagem
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Por: Assessoria de Monitoramento dos Poderes Públicos
Redação: Kelly Cristine Oliveira Meira
A Assessoria de Monitoramento dos Poderes Públicos do Nesp prossegue com a análise dos projetos com os quais os deputados federais e senadores de Minas Gerais estiveram alinhados no atual mandato (2019-2022).
O Projeto de Lei (PL) 2633/2020 foi escolhido como terceiro objeto dessa série pela sua importância ambiental e social no que diz respeito às populações quilombolas e indígenas. Essas temáticas se tornam cada dia mais importantes devido às denúncias de genocídio de tribos indígenas e aos recordes do desmatamento da Amazônia, bem como o aumento da crise climática.
A Câmara dos Deputados aprovou, em 3 de agosto de 2021, o PL 2633/2020, de autoria do deputado mineiro Zé Silva (Solidariedade), que ficou conhecido como “PL da grilagem”. De maneira simples, grilagem é o roubo de terras públicas; é uma prática que se caracteriza pela invasão, ocupação e obtenção de maneira ilícita da terra pública sem autorização do órgão responsável.
O PL foi amplamente criticado por organizações ambientais, indigenistas, comunidades tradicionais e povos indígenas. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ressaltou que o PL tem o potencial de aumentar a violência no campo e de “premiar criminosos”. A Comissão Pastoral da Terra afirma que 2020 foi o ano com mais episódios de violência no campo nos últimos 35 anos, e os povos indígenas correspondem a 56% do total de vítimas da violência por disputa de terra, pois tiveram suas terras invadidas.
Na mesma linha do CIMI, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) publicou uma nota contra o avanço da legalização da grilagem no Brasil. Nessa nota é pontuado o fato de que regularizar terras públicas que foram invadidas, ou seja, que são objeto de grilagem, premia pessoas que praticaram diversos crimes, incluindo homicídios. Além disso, a CNDH também aponta que não foram realizados estudos sobre o impacto desse PL nas políticas de reforma agrária, na demarcação e titulação de áreas indígenas e quilombolas, e na criação de unidades de conservação.
O Instituto Socioambiental corrobora a posição do CNDH destacando que o PL “‘enfraquece os controles sobre a ocupação de terras públicas, abrindo caminho para anistiar grileiros e criminosos ambientais associados, em especial na Amazônia’”. O Instituto também indica a existência de um círculo vicioso no qual políticos e proprietários rurais pressionam o governo pela legalização de áreas públicas ocupadas, o que por sua vez estimula a invasão de novas terras, que gerará pressão por mudanças na legislação. Esse processo pode ser visto pelas mudanças importantes que foram feitas em relação às regras fundiárias entre 2009 e 2017.
A relação entre o desmatamento e a grilagem de terras públicas, principalmente na região da Amazônia, é tema de discussão no artigo publicado no periódico Elsevier e pelo Eco que apontam que aproximadamente 23% das florestas públicas não destinadas da Amazônia foram tomadas por grileiros, valor correspondente a mais de 11,6 milhões de hectares. De acordo com a professora Cláudia Azevedo, em entrevista para o Eco, “esse é um processo histórico, de grilagem de terra, mas que agora está se intensificando justamente dentro das florestas não destinadas. Existe um processo de privatização dessas áreas que passa a ser facilitado, inclusive, com essas flexibilizações que a gente vem acompanhando na legislação”.
É importante pontuar que o PL da grilagem também afeta as terras indígenas, quilombos e unidades de conservação que estão em processo de serem oficializadas porque o PL determina que as instituições – como Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) – têm o prazo de 180 dias para apresentarem estudos técnicos conclusivos sobre o processo. Contudo, essas instituições estão precarizadas em recursos financeiros e humanos, o que torna esse prazo irrealista.
O placar de votação do PL da grilagem na Câmara Federal foi de 296 votos pela aprovação e de 136 votos contrários, além de 78 parlamentares ausentes e 1 abstenção. Quando considerados os deputados federais de Minas Gerais, 29 parlamentares votaram pela aprovação do PL, 14 foram contrários e 10 estavam ausentes. Esses dados podem ser visualizados nos gráficos abaixo.
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Os deputados federais mineiros que votaram ‘sim’ pela aprovação do PL da grilagem estavam filiados aos seguintes partidos políticos no momento da votação: PSL (5), PSDB (3), PL (3) e PP (3).
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