PERIGO: Maioria dos deputados mineiros foi favorável à extensão da posse de armas em propriedade rural
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POR: Assessoria de Monitoramento dos Poderes Públicos.
Redação: Kelly Cristine O. Meira e Ana Camila Moreira – em 24/05/2022.
Ao acompanhar as votações legislativas mais relevantes dos últimos quatro anos em termos políticos, sociais e econômicos em âmbito nacional, a Assessoria de Monitoramento dos Poderes Públicos do Nesp se propõe a expor o posicionamento dos 53 deputados federais e 3 senadores mineiros.
A Câmara dos Deputados Federais aprovou, em 21 de agosto de 2019, o PL 3715/2019, que se tornou lei em setembro do mesmo ano. Uma emenda acrescentada à legislação vigente passou a permitir a posse de armas em toda a extensão da propriedade rural, e não apenas na sede como era determinado pelo Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03). Isso significa garantir ao proprietário o direito de andar com uma arma de fogo em qualquer parte da propriedade.
Foi proposta pelo senador de Rondônia Marcos Rogério (DEM), segundo o qual se trata de uma correção na legislação vigente desde 2003, que não especificaria a situação no âmbito rural. A argumentação do parlamentar foi construída em torno da compreensão da residência para além da sede habitacional dos donos e seus dependentes, o que garantiria completo direito à legítima defesa.
No ato de sancionamento pelo presidente da República Jair Bolsonaro (PL), este afirmou: “Todos nós ganhamos com esta proposta. O sentimento é de que nós estamos buscando fazer o melhor para atender à necessidade do nosso público”. Desde sua campanha eleitoral, Bolsonaro já se dizia favorável à ampliação da posse e porte de armas de fogo no país, defendendo políticas de segurança pública repressivas.
A emenda altera a posse de armas e não seu porte. A primeira categoria diz respeito à alegação de defesa pessoal em ambiente doméstico; a segunda, no entanto, permite o deslocamento do armamento de fogo para áreas públicas. No Brasil, apenas a posse de armas é autorizada a civis.
A violência cometida nas áreas rurais da América Latina é elevada em decorrência, sobretudo, de conflitos entre proprietários de terra, garimpeiros, indígenas, ativistas ambientais e membros de movimentos sem-terra. Nesse sentido, a aprovação desse Projeto de Lei traz preocupações para a piora desse cenário no Brasil, considerando a ampliação indevido da posse de armas em nome da defesa pessoal.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a violência nas regiões rurais tem aumentado constantemente nos últimos anos, alcançando, em 2020, os maiores níveis dos últimos 35 anos. O relatório da CPT indica que em 2019 o número de atos violentos registrados aumentou 26% em relação a 2018. Em 2020, os episódios de violência no campo aumentaram 25% em relação a 2019. Por dia, o número de conflitos passou de 2,74 em 2018, para 4,31 em 2020.
O PL 3715/2019 foi amplamente apoiado pelos deputados federais; em nível nacional foram 320 votos favoráveis à aprovação e 61 contrários. Considerando os deputados federais mineiros, foram 35 votos ‘sim’ e 7 ‘não’. Os gráficos abaixo ilustram o placar de votação do PL. Ademais, é possível identificar a similaridade entre a votação na Câmara quando considerados todos os deputados federais e quando se apresentam separadamente apenas os deputados federais de Minas Gerais.
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No momento da votação, os partidos com maior número de deputados mineiros que votaram pela aprovação do PL foram, PSL (6), PSDB (5) e PP (4). Juntos, os parlamentares desses três partidos corresponderam a 42,86% do total dos deputados federais de Minas Gerais que votaram ‘sim’ pela aprovação do Projeto. Pelo estado, apenas deputados do PT (Leonardo Monteiro, Padre João, Patrus Ananias, Paulo Guedes e Rogério Correia), do PSOL (Áurea Carolina) e do PDT (Subtenente Gonzaga) votaram contra a proposta.
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Os 35 deputados federais mineiros que votaram pela aprovação desse Projeto de Lei estão distribuídos entre 15 partidos. Como indicado anteriormente, PSL, PSDB e PP concentraram quase 43% dos votos favoráveis de Minas Gerais (15 parlamentares). Entre os outros partidos: Avante, PSD, PSB, PROS, Novo, Patriota, MDB e Republicanos, cada um teve 2 deputados federais favoráveis ao Projeto de Lei; e, PSC, Solidariedade, Podemos e PL, cada partido, teve um parlamentar.
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