A construção coletiva da cidade: a destinação do aeroporto Carlos Prates
Por: Casa Comum/Nesp – Em 26/08/2022 –
O que queremos para o Prates? Esta pergunta vem mobilizando a Casa Comum: Escola de Formação Política de Cristãos Humanistas, do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, a Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz e moradores dos bairros Caiçara, Jardim Montanhês, Jardim São José, Minas Brasil, Monsenhor Messias e Padre Eustáquio.
Nossa primeira oficina – Histórias, nossas Histórias! – realizada no sábado, dia 20 de agosto, reuniu lideranças da comunidade, moradores, crianças e familiares que participam das atividades de catequese na paróquia. Acolhidos pela música Anunciação de Alceu Valença, na voz e violão de Cristiano Lima, começamos a refletir juntos e a construir uma linha do tempo, com os depoimentos dos moradores, adultos, jovens e crianças, sobre suas relações com o aeroporto.
Muitos relatos sobre os acidentes e a angústia vivida cotidianamente diante da iminência de outras tragédias, se somam, também, aos depoimentos que revelam o prazer de observar as decolagens e aterrissagem e voar nas asas da imaginação. Naturalmente já surgiram outros importantes assuntos, pois a desativação do aeroporto suscita a pergunta-chave: O que queremos para o Prates? Os participantes ressaltaram que esta é uma área muito preciosa, por isso a desativação deve vir acompanhada de estratégias de diálogo com a comunidade para que seja fruto de uma construção coletiva democrática. Dentre os principais aspectos comentados, podemos citar a infraestrutura urbana existente, que já não suporta mais adensamento, e isso pode trazer consequências para a mobilidade, para a drenagem urbana, dentre outras. Também ressaltaram que a especulação imobiliária pode promover fortes pressões, em um primeiro momento dirigidas à área do aeroporto e, na sequência, podem afetar inclusive outros bairros no entorno, o que pode gerar fortes impactos na paisagem urbana, com a substituição de casas por edifícios.
Enquanto essa roda de conversa acontecia, convidamos as crianças a representar por meio de desenhos seus desejos para a área do aeroporto. Os desejos das crianças deram vida à instalação árvore dos sonhos. Encerramos a primeira etapa, ao som de Cristiano Lima e seguimos para um café.
Na segunda parte desta manhã de final de inverno, com temperatura amena e um sol acolhedor, iniciamos o mapeamento afetivo. Os participantes foram convidados a observar uma foto aérea da região e a identificar seus lugares de afeto, de referência, espaços por onde gostam de passear, visitar e transitar. Cada participante, ao selecionar seus lugares de afeto, receberam um mapa em branco para que pudessem registrar seus cotidianos e suas experiências. Assim, folha por folha, reunidas, dispostas em camadas, construímos coletivamente o mapa afetivo, revelando que nossa cidade é composta por múltiplas camadas históricas, distintos pedaços significativos e simbólicos, vários lugares e marcos que compõem a paisagem cultural. Todos esses produtos – Linha do Tempo, Árvore dos Sonhos, Mapa Afetivo – fazem parte da exposição O que queremos para o Prates. Convidamos a todas e todos para participarem. A exposição é interativa; todos podem contar a suas histórias, na linha do tempo, reconhecer seu território e elaborar seus mapas ou representar seus desejos.
Local: Igreja Nossa Senhora Rainha da Paz, Rua Iraci Carneiro, 251 – Caiçara.
Horário: durante a semana entre 8h e 12h e 13 e 17h; sábado entre 8h e 12h e nas celebrações aos sábados às 19h30 e domingos às 10h e 18h.
Nosso próximo encontro – Olhar, Reparar, Sentir! – será uma oficina de fotografia, realizada com câmeras de celular. Vamos reconhecer nosso território por meio do olhar fotográfico. Venha participar! A oficina será realizada no dia 03 de setembro, entre 10h e 12h, na Igreja Nossa Senhora Rainha da Paz.
É muito importante observar que o Aeroporto Carlos Prates está localizado na Regional Administrativa Noroeste, em uma área bastante adensada, com várias residências e equipamentos de uso coletivo, como escolas, centros de saúde e cultura, que se encontram ameaçados devido ao risco de acidentes aéreos.
Entre 2004 e 2020 foram registradas 47 ocorrências envolvendo o aeroporto: 7 acidentes (5 mortos e 6 feridos, alguns gravemente feridos), 39 incidentes (13 incidentes graves) e 2 danos patrimoniais (caíram sobre as casas). Além disso, a área do entorno do aeroporto convive diariamente com o incômodo do ruído que tem constrangido, ao longo desses anos de funcionamento, não somente os moradores, mas também os usuários dos equipamentos de uso coletivo, dentre eles seis centros de saúde e sessenta instituições de ensino.
A Portaria 459/2022 do Ministério da Infraestrutura prevê a desativação do aeroporto no dia 1º de janeiro de 2023.
O aeroporto ocupa 547 mil metros quadrados (aproximadamente 50 campos de futebol, ou quase 3 vezes a área do Parque Municipal). Está localizado na divisa entre duas grandes bacias hidrográficas: a do Ribeirão Arrudas e a do Ribeirão do Onça, que por sua vez fazem parte da Bacia do Rio das Velhas, que deságua no Rio São Francisco. Na microescala ambiental urbana, a área do aeroporto encontra-se no interflúvio dos vales dos ribeirões Pampulha, Arrudas e Córrego do Pastinho. A regional noroeste é a regional com menor número de áreas verdes, são 47 bairros e apenas 1 parque, enquanto na regional Centro-Sul estão 41 bairros e 19 parques.
O Plano Diretor (Lei 11.181/19) estabelece que 122 mil metros quadrados desta área devem ser destinados a um parque, isso representa 60% da área do Parque Municipal. Os demais 425 mil metros quadrados podem ser destinados à equipamentos coletivos públicos ou privados com usos diversos, como museu, centro cultural, unidades de atendimento à saúde. E como este é um terreno público, também pode receber habitação de interesse social.
Em síntese, temos uma área muito especial, uma das últimas grandes áreas livres no território da cidade de Belo Horizonte e precisamos cuidar e lutar por nossa cidade, para que possamos garantir uma cidade mais justa do ponto de vista ambiental, econômico, político e social.
Se quiser saber mais sobre o Prates, veja a matéria abaixo: