Economia da morte: em crise, Brasil vê número de milionários aumentar

Em maio deste ano, o Papa Francisco Francisco encontrou-se  com os participantes da conferência internacional da fundação Centesimus Annus pro Pontifice.

Na ocasião, o Papa falou que a economia «da exclusão e da iniquidade» produz um número cada vez maior de «deserdados e pessoas descartadas como improdutivas e inúteis».

O Pontífice pediu  «novos modelos de progresso» não orientados exclusivamente para o lucro e o bem-estar: modelos orientados mais diretamente para o bem comum, a inclusão e o desenvolvimento integral, o incremento do trabalho e o investimento nos recursos humanos».

Por fim o Papa denunciou as consequências da falta de trabalho para as famílias e sobretudo para os jovens. «As taxas de desemprego juvenil  são um escândalo que não só requer que seja enfrentado primeiramente em termos econômicos, mas deve ser tratado também , e não menos urgentemente, como uma doença social, dado que à nossa juventude é roubada a esperança e são desperdiçados os seus grandes recursos de energia, criatividade e intuição».

Vivemos numa sociedade sustentada num modelo de economia global que privilegia a concentração de riqueza e renda nas mãos de poucos.

Vejamos o caso brasileiro: apesar de o Brasil viver uma de suas piores crises econômicas em décadas, o número de milionários no país continua a se expandir.

Informações da Receita Federal de setembro, deste ano, dão conta que os 5% mais ricos, do Brasil, detêm 28% da renda total e da riqueza, sendo que o 1% dos declarantes mais ricos acumulam 14% da renda e 15% da riqueza. Os 0,1% mais ricos detêm 6% da riqueza declarada e da renda total.

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Dados publicados nesta segunda-feira, 21, pelo Credit Suisse apontam que 10 mil novos brasileiros passaram a ser considerados como tendo uma fortuna acima de US$ 1 milhão, somando um total de 172 mil pessoas em 2016.

Os dados se contrastam com a realidade econômica do país, com um desemprego recorde. Segundo o próprio estudo revelado na Suíça, o Brasil “enfrenta sérias dificuldades”.

Publicamos a reportagem de Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo:

Em dólares, a renda média de um brasileiro é hoje apenas um terço do que era em 2011, com uma das maiores quedas entre as grandes economias. “Ainda que o patrimônio tenha continuado a aumentar na moeda local, esses ganhos são em grande parte inflacionários”, indicou.

“Dados anteriores mostraram que a média da renda de uma família triplicou entre 2000 e 2011, saindo de US$ 8 mil por adulto para US$ 27,1 mil”, explicou o informe. “A história da riqueza no Brasil foi uma de um boom e de uma explosão”, alertou. Em 2016, os dados apontam que a renda média de um adulto voltou a cair para apenas US$ 21 mil por ano.

Na avaliação realizada por um dos maiores bancos da Suíça, ativos financeiros continuam representando 36% do patrimônio de famílias no Brasil. “Muitos brasileiros mantém uma relação especial com ativos imobiliários, especialmente em forma de terra, como uma proteção contra futura inflação”, indicou.

A dívida de famílias, porém, se manteve estável, passando de 19% de seu patrimônio em 2015 para 18% em 2016. Na avaliação do banco, isso pode “refletir uma maior cautela diante do aumento de incertezas que o país atravessa”.

Apesar da crise e da queda no patrimônio em dólares, o próprio banco revela a dimensão da desigualdade social no Brasil e aponta que o fenômeno é “relativamente alto”.

Além dos 172 mil milionários no país, o Brasil conta com 245 mil adultos entre a camada que representa 1% da riqueza mundial.

Ao mesmo tempo, o Brasil tem 24 milhões de pessoas com uma renda inferior a US$ 249,00 por ano. Essa população é classificada pelo banco como “o fundo” da sociedade mundial. “O nível relativamente alto de desigualdade reflete a desigualdade de renda, o que por sua vez está relacionado com um padrão desigual de educação pela população e a divisão entre os setores da economia formal e informal”, aponta o banco.

O país que registrou um maior incremento de milionários em 2016 foi o Japão, com 738 mil novas pessoas nessa categoria, atingindo 2,8 milhões de cidadãos. Nos EUA, eles já são 13,5 milhões de pessoas, contra 1,6 milhão na Alemanha. Entre as maiores economias da América Latina, o número de milionários caiu na Argentina e México. Na China, com 1,5 milhão de milionários, a economia também perdeu 43 mil pessoas nessa categoria.

No mundo, o número total de milionários passou de 32,3 milhões em 2015 para 32,9 milhões em 2016. 596 mil novas fortunas foram registradas no ano.

Fonte: O Estado de São Paulo e IHU 0n line