Bancada evangélica: leia duas reportagens sobre o enorme crescimento dos evangélicos na Câmara de São Paulo

O aumento de 120% no número de mulheres eleitas para a Câmara Municipal de SP a partir de 2017 traz implícito outro dado revelador: 7 das 11 vereadoras são evangélicas. A Casa terá 20% dos assentos ocupados por mulheres –as 5 atuais representam 9%, enquanto a população feminina na cidade é de 52,5%.

A mais votada entre as vereadoras de São Paulo foi a tucana Patrícia Bezerra, com mais de 45 mil votos. O partido do futuro prefeito, João Doria (PSDB), elegeu 3 vereadoras –todas evangélicas.

“É importante a presença feminina na Câmara mesmo que seja de mulheres de perfil conservador”, avalia Lara Mesquita, doutora em ciência política e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), para quem isso provoca mudança “no vocabulário”, “na maneira como se trata as mulheres”, além de chamar a atenção para “temas femininos”.

O cientista político Fernando Abrucio, da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que essa mudança no Legislativo é “muito relevante porque a agenda feminina na Câmara era praticamente zero”.

Ele destaca que colaborou para este resultado a maior visibilidade dos movimentos de mulheres e a pressão que exerceram para a organização de feministas, mas também de mulheres que não se enquadram como tal.

Como exemplo, ele cita a vereadora evangélica reeleita Edir Sales (PSD), cujo discurso foi progressivamente se voltando para a mulher e seu papel na sociedade.

Trata-se do caso também da cantora gospel e vereadora reeleita Noemi Nonato (PR). “Não sou feminista, mas me dedico ao combate da violência contra a mulher”, diz.

Eleita com uma bandeira explicitamente feminista, a estreante Sâmia Bonfim (PSOL) avalia como importante a discussão na Câmara do machismo e da LGBTfobia.

No último ano, vereadores evangélicos foram os principais responsáveis pela retirada de metas de combate à discriminação de gênero do Plano Municipal de Educação.

O perfil da futura bancada feminina, para ela, “expressa os limites da representatividade”. “Ter uma mulher na Câmara não significa que os direitos das mulheres vão avançar. Podemos ter homens mais aliados às causas femininas e feministas do que algumas mulheres conservadoras.”

Juliana Cardoso, vereadora reeleita do PT, celebra a alta de mulheres na Casa, mas ressalva que “temas feministas tendem a ser tabu de certas congregações evangélicas”.

Para Abrucio, essa configuração é sinal de que “haverá briga” entre as candidatas. “Mas, se elas forem perspicazes politicamente, vão encontrar pontos de consenso”, diz.

“O maior conflito está no plano federal, onde se discute a questão do aborto. No município, essas mulheres tendem a ser parceiras em questões femininas, como na ampliação de vagas em creches”, afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão.

BÍBLIA: A bancada que reúne vereadores evangélicos vai crescer de 11 para 15 em 2017. Com isso, 27% da nova Câmara passa a ser ocupada por esse perfil religioso –a proporção de evangélicos na população é de 22%, segundo dados do Censo de 2010.

Esse aumento, segundo especialistas e articuladores políticos, pode estar relacionado à nova lei eleitoral. Com restrições de financiamento, de visibilidade nas ruas e tempo de TV, os candidatos ligados a igrejas saem na frente.

“O candidato encontra nas igrejas máquinas poderosas e organizadas jogando a seu favor”, diz Mesquita.

O pastor Lélis Marinho, coordenador político nacional da Assembleia de Deus Belém, que ajudou a eleger a vereadora Rute Costa (PSD), reconhece que a nova legislação pode ter beneficiado os candidatos ligados às congregações. Como a lei proibiu a campanha durante os cultos, a sugestão de candidatos pelas lideranças se deu via redes sociais ou com a distribuição de materiais e santinhos na saída dos cultos.

“Além disso, existe hoje uma preocupação geral nas comunidades evangélicas de ter sua representação no Legislativo em função de novas demandas e leis que têm surgido”, afirma Marinho. Essas demandas, diz, incluem combate à corrupção e “defesa da família e da liberdade de culto, sempre ameaçada”.

Entre os temas sensíveis sensíveis a esses vereadores estão o Psiu (devido ao barulho em cultos) e o Código de Obras (com regras para prédios de igrejas). (Fonte: Folha de São Paulo).

Bancada evangélica quase dobra na Câmara Municipal de São Paulo

Número de vereadores ligados a igrejas vai subir de 7 para 13. Tuma, que propôs o Dia de Combate à Cristofobia, foi reeleito

O número de vereadores ligados a alguma igreja evangélica vai quase dobrar na próxima legislatura da Câmara Municipal de São Paulo. Os sete vereadores da atual legislatura foram reeleitos no último domingo (2), e pelo menos outros seis foram eleitos. Com isso, a chama “bancada evangélica da Câmara Municipal” vai crescer de 7 para 13 vereadores a partir de 1º de janeiro de 2017.

Presbítero da Igreja Bola de Neve, Eduardo Tuma (PSDB) foi reeleito e recebeu 70.273 votos, o maior pleito entre os evangélicos.

Tuma é autor do projeto de lei que criaria em 25 de dezembro o Dia do Combate à Cristofobia, vetado pelo prefeito Fernando Haddad.

“Se se considera a homofobia um crime, e é um crime que se deve punir, a cristofobia também é um crime e também deve ser punida”, disse o vereador quando o projeto foi aprovado na Câmara.

Além dele, Atílio Francisco (PRB), Souza Santos (PRB), David Soares (DEM), Noemi Nonato (PR),  Patrícia Bezerra (PSDB) e Sandra Tadeu (DEM) também foram reeleitos.

Entre os novos vereadores, João Jorge (PSDB), da Assembleia de Deus, teve o maior número de votos, 42.404. Gilberto Nascimento Júnior (PSC), Rute Costa (PSD), também da Assembleia de Deus, André Santos (PRB), da Universal, Rinaldi Diglio (PRB), da Evangelho Quadrangular e Adriana Ramalho (PSDB) completam a bancada com seus primeiros mandatos.

Eduardo Tuma credita o aumento da bancada evangélica ao crescimento da igreja na sociedade. “A minha crença é que a Câmara é um pouco o reflexo da sociedade paulistana. Há diferentes vozes na sociedade que compõe a casa. A bancada evangélica ela também é um reflexo da representatividade deste segmento evangélico. O segmento cresceu, a representatividade também cresce”, afirma o vereador.

Ainda de acordo com Tuma, nem todos os vereadores representam exclusivamente a igreja. “Eu tenho outra representatividade junto, por exemplo, à minha classe profissional, que são os advogados, junto à minha colônia que é a colônia árabe. Tem que haver, sim, um somatório de fatores. Existem vereadores que são eminentemente evangélicos e existem vereadores que coligam com fatores diferentes.”

A vereadora Edir Sales (PSD) foi reeleita com 39.062 votos se diz cristã, mas garante não integrar a bancada evangélica. (Fonte: G1 – São Paulo).