Opinião: Juro alto prejudica geração de empregos na Região Metropolitana de Belo Horizonte

Sede do Banco Central em Brasília/Fonte: Assessoria de Comunicação Câmara dos Deputados

Este texto é uma contribuição gentilmente ofertada ao Nesp pelo jornalista Marcelo Gomes, que integra nossa rede de colaboradores. Os textos opinativos publicados neste site obedecem ao propósito de estimular a reflexão sobre a conjuntura política e sobre outros aspectos de interesse social, mas não representam a opinião do Nesp, da PUC Minas e/ou da Arquidiocese de Belo Horizonte.

Por Marcelo Gomes – 03 de março de 2023

Os municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) são majoritariamente pequenos e pobres, embora próximos dos maiores PIBs do estado (Belo Horizonte, Betim e Contagem). Conforme vem sendo demonstrado em vários dos estudos publicados pelo Nesp, os poderes públicos locais têm ações tímidas de desenvolvimento. Para piorar o quadro, a elevada taxa de juros que, há alguns anos, tem sido adota como política econômica nacional tende a empobrecer ainda mais as cidades da zona metropolitana. 

Nas 28 cidades onde a Arquidiocese da capital está presente, funcionavam até o ano passado 657,5 mil empresas. A maioria delas, cerca de 88,5%, era microempresa – 581,5 mil. Empreendimento desse porte possui faturamento anual de até R$ 360 mil e não tem mais que 10 funcionários. Esses e outros dados foram apurados pelo Monitoramento dos Poderes Públicos do Nesp no Mapa das Empresas, do governo federal.

Negócios pequenos são mais dependentes de capital de giro, reserva de dinheiro que ajudam os empresários a custearem operações cotidianas. Os faturamentos oscilam durante o tempo, sobretudo nos empreendimentos menores. Por isso, quando eles variam negativamente, as organizações solicitam aos bancos recursos para manter em dia os salários e as demais despesas.

De modo geral, somente as micro, pequenas e médias empresas necessitam de capital de giro. Afinal, as grandes companhias são mais resilientes às intempéries do mercado. Vide seus caixas mais “gordos” e serem preferência nos empréstimos dos bancos públicos, como no BNDES.

Logo, o capital de giro é um instrumento importante na economia da região metropolitana da capital. Por ser uma espécie de empréstimo, ele está sujeito às taxas básicas de juros. Neste momento, o Brasil pratica um dos juros básicos mais elevados do mundo: 13,75%. Nesse patamar as empresas são inibidas de buscarem capital de giro, útil nesse momento de crise.

Para se ter uma ideia da utilidade desse capital, em Minas Gerais, no comércio, as empresas não manifestam otimismo. 44,1% delas disseram não acreditar em maior volume de vendas neste semestre. É o que informa recente pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG).

Em contexto de baixo faturamento e crédito caro, a alternativa é cortar as despesas, em especial, demitir funcionários. De acordo com dados do Banco Central, na média, os juros de capital de giro em dezembro de 2020 eram 10,9%. Em dezembro de 2022, 23,2%. Ainda segundo o BC, o Bradesco se destaca na concessão de capital de giro no país. Simulou-se, então, um empréstimo no site da instituição.

A simulação foi feita com garantia de alienação fiduciária – quando um bem é dado ao banco como garantia de pagamento. O valor do crédito seria de R$ 21.978, quitado em 60 parcelas de R$1.613,66. O empresário que incorresse nessa proposta devolveria R$ 96,8 mil.

Não há lógica em juros tão altos

Os juros estão elevados face ao aumento da inflação, como argumenta o Banco Central. A lógica da instituição é: ao encarecer o preço do dinheiro, que é o juro, se arrefece a demanda por bens e serviços, desinflacionando seus preços. Contudo, sérios fatores vêm mostrando equívoco nessa compreensão.

Primeiramente, a alta da inflação dos últimos tempos ocorreu, em grande medida, porque subiu o preço dos bens e serviços administrados, aqueles cujos valores são determinados pelos poderes públicos. Assim, a mais recente redução inflacionária originou-se de quedas justamente nas tarifas de bens e serviços administrados pelos governos. “Ao longo do ano (2022), a queda dos preços administrados se constituiu no principal fator de desaceleração da inflação. De modo similar, no acumulado do ano (2022), os preços administrados apontam deflação de 4,1%, refletindo a forte queda nos preços da gasolina (-25,0%) e da energia (-19,2%)”, afirma o Ipea em sua Carta de Conjuntura.

O Banco Itaú, maior instituição financeira privada do país, subiu sua projeção de inflação para este ano. Motivo: possibilidade de aumento nos preços administrados. “Revisamos projeção de inflação em 2023 para 6,3%, de 5,8%, incorporando revisão altista em preços administrados (gasolina, emplacamento e licença, plano de saúde e energia elétrica)”, diz o banco no último relatório de análise macroeconômica.

Portanto, se os preços de bens e serviços administrados são os principais mecanismos de aumento ou descida da inflação, uma alteração neles é que deveria ocorrer. Cabe aos parlamentares e governos promoverem isso. Assim, não haveria necessidade de o Banco Central elevar a taxa de juros.